"Essas palavras que escrevo me protegem da completa loucura." Charles Bukowski

sábado, maio 12, 2012

1320 dias



“Alô. É... Você “tá” em casa?”
“ A-hã.”
“Então...É... Estou chegando aí. Precisamos conversar.”
“Também acho que precisamos conversar. Que horas você vem?”
“Na verdade, já estou no elevador do seu prédio.”
Desligo no momento em que aperto o botão do 12º andar. Como na música de Nando Reis. Eu também não via a hora de encontrar, mas o que nós terminaríamos,  não seria apenas uma conversa.  Mais de 3 anos de história. Pra ser exata, 44 meses. Cerca de 1320 dias.  
Tanta coisa tinha acontecido nesse tempo. Um negro virou o homem mais poderoso do mundo. Uma mulher é a presidente do Brasil. Bin Laden morreu. O Faustão emagreceu. Eu já não bebia Coca-cola e nem comia carne. A Terra já estava a meio caminho de dar a 4ª volta no Sol desde o primeiro dia em que comecei a pensar nele. Mas pra mim, o tempo tinha parado. Nada acontecia. Eu seguia a mesma vida de três anos trás. Mas eu não era mais a mesma de 1320 dias atrás. Piiiiin. Andar 12.
Não hesitei. Toc-toc. Sentindo os sintomas costumeiros: estômago revirando, peito agoniando... O famoso coração apertado no peito. O mundo empurrava uma angústia lá dentro. Descia garganta abaixo. Sem licenças. Sem autorizações. Apenas dominando.
“Oi, disse ele tentando me dar um beijo.” Me deixei ser beijada. “Por que não avisou que viria? Preciso estar em 15 minutos pra fazer uma entrevista. Mas é aqui perto.”
Que bom, pensei. Me obriga a ser breve e evita que a conversa dure mais do que o necessário.
“Decisão tomada na última hora, respondi. Desculpe por não avisar. É bem rapidinho.”
“Não. Fique aqui. Volto em breve. Prometo não demorar, ok?”
A sugestão me desarmou totalmente. Até então, não sabia se estava ali para discutir a relação ou para simplesmente por um fim nela. Na verdade, eu sabia sim. Mas aquele convite trouxe a tona uma dúvida que não existia.
“Pode ser”, respondi sem pensar muito e sem qualquer convicção.
“Chegarei o mais o breve possível”, disse saindo.
“Felipe”,  chamei-o. Ele virou-se e me olhou. Com um ar indecifrável entre a curiosidade e a estranheza. “Não demora. Por favor.”
Ele voltou e me deu um beijo. Seco. Zero emoção. Foi o último dado. Saiu.
Fui para o quarto e me deitei na cama. Olhei tudo como quem se despede. Igual a 3 anos atrás: cd’s baixados da internet, dvd’s de Prison Break, livros de Richard Dawkins, vários exemplares da Superinteressante e os ingressos de todos os jogos do Corinthians que fomos juntos. Tive inúmeros momentos felizes ali, admito. Declarações emocionadas. Juras já esquecidas. Sonos embalados ao som de Joss Stone. Tardes regadas de risadas, coca-cola e Playstation. 1320 dias que não seriam esquecidos. Não foram...


Letras .... .... Tortas


Nenhum comentário: