"Essas palavras que escrevo me protegem da completa loucura." Charles Bukowski

sexta-feira, agosto 17, 2012

Os anticorpos que o coração cria


Você não infecta mais a minha tranquilidade. 
Meus anticorpos, as recordações daqueles meses, 
abortando suas aproximações impulsivas e vazias. 

Boa notícia. Achei que morreria de você.

Não tem mais febre no rosto, quando você chega. 
Não tem mas arritmia, quando você fala comigo as mesmas palavras; 
o mesmo discurso; a mesma mentira; o mesmo eu, eu, eu. 
Não tem mais pontos frouxos do coração esgarçados pelo som da sua voz turista. 
Não tem mais tentativa de anestesiar o desconforto com embriaguez crônica 
e muita mão no copo ou no bolso ou no cigarro que tentei fumar; 
e luz fraca, para que você não radiografasse meu amor hemorrágico. 
Não tem mais o seu sorriso contaminando as minhas decisões.
O silêncio que você me receitava era dor aguda, 
menstruando em todas as linhas que um dia escrevi. 
Sua indiferença intoxicava a minha cabeça com qualquer poltrona vazia no cinema, 
qualquer beijo público que eu era obrigada a suportar, 
qualquer copo da cerveja mais vagabunda, 
que você enxertava como sua única necessidade.
Aos romances sufocados pela vaidade de alguém, 
aos corações em estado de choque, 
aos relacionamentos natimortos:
 meu coração cicatrizado (mas com queloide).

Priscila Nicolielo, colunista do Casal sem vergonha

Nenhum comentário: