“Alô. É... Você “tá” em casa?”
“ A-hã.”
“Então...É... Estou chegando aí. Precisamos
conversar.”
“Também acho que precisamos conversar. Que horas
você vem?”
“Na verdade, já estou no elevador do seu prédio.”
Desligo no momento em que aperto o botão do 12º
andar. Como na música de Nando Reis. Eu também não via a hora de encontrar, mas
o que nós terminaríamos, não seria
apenas uma conversa. Mais de 3 anos de
história. Pra ser exata, 44 meses. Cerca de 1320 dias.
Tanta coisa tinha acontecido nesse tempo. Um negro
virou o homem mais poderoso do mundo. Uma mulher é a presidente do Brasil. Bin
Laden morreu. O Faustão emagreceu. Eu já não bebia Coca-cola e nem comia carne.
A Terra já estava a meio caminho de dar a 4ª volta no Sol desde o primeiro dia
em que comecei a pensar nele. Mas pra mim, o tempo tinha parado. Nada
acontecia. Eu seguia a mesma vida de três anos trás. Mas eu não era mais a mesma de
1320 dias atrás. Piiiiin. Andar 12.
Não hesitei. Toc-toc. Sentindo os sintomas costumeiros:
estômago revirando, peito agoniando... O famoso coração apertado no peito. O
mundo empurrava uma angústia lá dentro. Descia garganta abaixo. Sem licenças.
Sem autorizações. Apenas dominando.
“Oi, disse ele tentando me dar um beijo.” Me deixei
ser beijada. “Por que não avisou que viria? Preciso estar em 15 minutos pra fazer uma
entrevista. Mas é aqui perto.”
Que bom, pensei. Me obriga a ser breve e evita que
a conversa dure mais do que o necessário.
“Decisão tomada na última hora, respondi. Desculpe
por não avisar. É bem rapidinho.”
“Não. Fique aqui. Volto em breve. Prometo não
demorar, ok?”
A sugestão me desarmou totalmente. Até então, não
sabia se estava ali para discutir a relação ou para simplesmente por um fim
nela. Na verdade, eu sabia sim. Mas aquele convite trouxe a tona uma dúvida que
não existia.
“Pode ser”, respondi sem pensar muito e sem
qualquer convicção.
“Chegarei o mais o breve possível”, disse saindo.
“Felipe”, chamei-o.
Ele virou-se e me olhou. Com um ar indecifrável entre a curiosidade e a estranheza.
“Não demora. Por favor.”
Ele voltou e me deu um beijo. Seco. Zero emoção.
Foi o último dado. Saiu.
Fui para o quarto e me deitei na cama. Olhei tudo
como quem se despede. Igual a 3 anos atrás: cd’s baixados da internet, dvd’s de
Prison Break, livros de Richard Dawkins, vários exemplares da Superinteressante
e os ingressos de todos os jogos do Corinthians que fomos juntos. Tive inúmeros momentos felizes
ali, admito. Declarações emocionadas. Juras já esquecidas. Sonos embalados ao
som de Joss Stone. Tardes regadas de risadas, coca-cola e Playstation. 1320
dias que não seriam esquecidos. Não foram...
Letras .... ♥ .... Tortas
Nenhum comentário:
Postar um comentário