“Eu sou uma mendiga ao contrario. Eu ando pelo mundo implorando pra que
alguém aceite a minha riqueza. Fico sentada no chão, tocando meu
instrumento, com um chapéu imenso e lotado. E a plaquinha “por favor,
não me ajude”. Muitas pessoas passam, mas pra poucas me levanto.[...]
A verdade é que, no meio da multidão, estamos carregando nossas malas pesadas de riquezas e belezas e sentimentos. E
uma hora, só porque acontece e não se pode explicar sem parecer ingênuo e
arrogante, escolhemos uma pessoa que nos leve.
Eu sei que é amor porque eu te escolhi pra me levar e, mesmo você não tendo aceitado, eu fui.
Eu te vi atravessando a rua com as mãos frias
dentro da “jaquetinha paletó que tem zíper” e fui lançada sem tempo de
pena. Você não sabe, você não vê, você não quer, você não se importa.
Mas, no último segundo do sinal fechado, eu abri a janela do meu carro e
joguei a mala com milhões de moedas de ouro.
A mala não te atingiu, caiu meio metro antes do seu último passo. Nem o
som do meu peito desmoronado, nem o cheiro do meu amor metalizado, nem a
luz da minha devoção dourada. A mala espatifou no meio da avenida
caótica pela chuva e pela véspera do feriado.”
.: Tati Bernardi :.
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