"Que doa. Que rasgue cada véu de ilusão que foi criada. Que as
lágrimas escorram gordas pela face impassível, que se derramem as retinas se o
pranto de água e sal não for suficiente. Que entorpeça, que me leve à beira da
loucura essa sutura mal feita. Ferida que não cicatrizou, eu estava certa.
Havia uma infecção emocional que apenas um bisturi poderia extirpar. Que seja.
Não faço mais curativos e nem lanço mão de placebos. Que seja insônia,
agonia, desespero se for este o caso. Não conheço vida sem quaisquer umas
destas emoções. Mas que venha tudo: o cru, o imundo, o insuportável. Que eu
possa sentir até o fundo dos poros, que todo o veneno amoleça minhas veias, que
a dor, antes obsoleta, pois a vida exigia uma sucessão de alegrias, me corroa
com inteireza."
Marla de Queiroz
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