Os promotores de justiça sabem. Os juízes sabem. Os terapeutas sabem. Os massoterapeutas sabem. As faxineiras sabem.
Nunca houve tanta reconciliação. Mais do que casamento e divórcio.
A reconciliação é o amor autêntico. O amor bandido que se converteu à
lei. O amor bêbado que largou o álcool. O amor drogado que fugiu dos
vícios. A reconciliação é o amor depois das férias, recuperado da perseguição dos defeitos e da distorção das conversas. É o amor depois da mentira, depois do tribunal, depois da maldade da sinceridade, depois da carência.
Casais que se prometeram o inferno, que disputaram a guarda na Justiça,
que enlouqueceram os filhos com suas conspirações, decidem voltar a
morar junto, para temor dos vizinhos, para o susto da parentada.
A reconciliação é uma moda entre os divorciados.Mal se acostumam com o nome de solteiro e se envolvem com os mesmos parceiros. Mas os mesmos parceiros são outros. Outros novos.
A distância elimina a culpa. A falta filtra a cobrança.Eles experimentaram um tempo sozinhos para descobrir que se matavam por uma idealização.Enfrentaram relacionamentos diferentes, exageros e excessos,
contemporizaram os medos e as rejeições, provaram de frustrações
amorosas.Viram que o príncipe se vestia mal, e o sapo coaxava bonito.Viram que não existe demônio ou santo no amor. Não existe certo ou errado, existe o amor e ponto.
Este amor provisório, inconstante, inacabado e vivo.
Este amor pano de prato, não toalha de mesa, mas que serve para secar a louça e as lágrimas.
Quem era ciumento retorna equilibrado, quem era indiferente regressa atento.
A trégua salva e refina o comportamento. O casal passa a adotar no
dia-a-dia aquilo que não admitia fazer e que o outro recomendava.
O que soava como crítica antigamente passa a ser conselho.Gordos emagrecem com exercícios físicos, brabos examinam seus ataques de fúria.A saudade era um recalque e se transforma em sabedoria. O par percebe que é melhor ser inexato do que inexistente.
Durante a separação, ninguém aceita ressalva e exame de consciência.
A separação é soberba, escandalosa, arrogante. Todos gritam e espalham os motivos da discórdia.
Já a reconciliação é humilde, ouvinte, discreta. Os amantes cochicham
juras e esquecem as falhas. Baixam as exigências para aperfeiçoar o
entendimento.
A reconciliação é o amor maduro, o amor que ressuscitou, o amor que desistiu de brigar por besteiras e intrigas.
Ah, Carpinejar!
Nenhum comentário:
Postar um comentário