"Tá doendo. Tá ardendo. Tá queimando. Tá molhando e amassando. Não tem um só dia que não doa algo. Quando não é o coração com saudade, é a cabeça com as lembranças. Quando não é o corpo sentindo falta do teu calor, é a boca com sede do teu beijo.
Tá hardcore, meu amor. Meu médico me receitou duas cartelas de ‘segue a
sua vida’. Tenho tomado três comprimidos durante sete dias e hoje já
faz noventa e um. Três meses e nada de efeito. A moça na farmácia disse
que esse é tarja preta, mas acho que não comigo.
Droga! Droga! Droga! É tanta foto. Tanta música. Tanto de você
espalhado por essa casa que fica cada vez mais complicado me desfazer
dessa ideia de que você realmente se foi. Às vezes tenho a sensação de
que você ainda está por aqui. Se estiver, aparece, por favor. Poxa vida,
eu sinto o seu cheiro impregnado no nosso quarto quase todos os dias
quando acordo. Digo, nas poucas noites em que consigo pregar os olhos.
Bosta. Encharquei todo esse papel, de dor e de palavras, de novo. E a
tinta já está se borrando linha por linha. Mas que se dane essa merda.
Eu nem tenho como te entregar, mesmo. Na verdade, não tem como eu te
entregar mais nada, já que desde que se foi, levou consigo tudo o que
era meu. Inclusive eu. Mas se você ao menos pudesse me ler, e me
responder de alguma forma… Pena que até nisso a vida fez questão de ser perfeita.
Tirou-te de mim da forma mais dolorida possível e não me deixou nem
sequer te dar um tchauzinho. Nem um beijinho. Nem um adeus. Ou relembrar
que você estava linda. Estava com a boca cheia né? E foi só um “Bom dia meu amor, a gente se ver mais tarde, tô indo”. E se foi para sempre. "
Wesley Néry
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